Coleção de Textos

7 de set. de 2012

Na Dúvida

Quando eu desconheço o que as pessoas pensam sobre mim, vem muito bem a calhar, e é, com certeza, o que eu faço, resolvo que acham o que pra mim é melhor. E se isso for egoísmo, eu sofro permanentemente dessa doença. Mas, se for possível pensar que é só amor próprio, com certeza eu prefiro.

5 de set. de 2012

Resultado

O bom debate é aquele em  que, ainda que pareça estranho, mesmo sendo um pouco sem sentido, cada um dos debatedores tem a impressão de que o adversário é que estava correto. E talvez, baste apenas consertar um pequeno detalhe para que as duas hipóteses deixem de ser conflitantes e passem a ser uma mesma prerrogativa.

26 de ago. de 2012

Dinâmica Psicossocial

Eu erro
Mas não assumo
Talvez só comigo mesmo
E já é o bastante
Fair enough

10 de jul. de 2012

Seis Meses

Algum tempo tem se passado...

A terceira era uma verdadeira vampira
Por consequência um demônio
Suga e torna tudo negro
Ao redor dela, a vida morre

A quarta era simplesmente humana
E de humanos nada se fala
Só que são tomados pelo desejo
E pouco retém as lembranças

A primeira era um anjo
Ela sorria o sorriso dos anjos
Ela andava o caminhar dos anjos
Mesmo bêbada entre os homens

A segunda?
A segunda foi só um fantasma
Vagou pelo campo dos espíritos
Passou rápido e sumiu, nada falou

9 de jul. de 2012

O Baralho

Estamos em julho.

Juliana Reis
Juliana Valetes
Juliana Damas

Juliana Azes
E por aí seguem-se as julianas.

8 de jul. de 2012

O Dom

Nem todo mundo pode ver o futuro, mas não é díficil conseguir. É um dom, mas também não é nenhum segredo, mas se pode fazer os tempos vindouros claros e a reluzir.

3 de jul. de 2012

Cotidiano No. 5

Hoje eu resolvi ir treinar um pouco. Sair de casa (com um propósito diferente) às vezes é bom. E aí vem a dúvida cruel: vai com um carro ou vai com o outro?

Não que a vida esteja tão fácil assim pra mim, que essa seja a questão mais importante da minha vida, o único tipo de decisão que faço. Nem meus os carros são. Mas era isso: vai com um carro ou vai com o outro?

Enquanto eu me arrumava, colocava o tênis, eu sentia uma indecisão profunda. No fundo já era uma amargura, um sentimento meio-azul-meio-cinza, nublado e frio. "E aí, campeão?".

Vai com um carro ou vai com outro?

Deixei pra decidir de último segundo, se iria com um carro ou com o outro: desci, fui pegar as chaves, mas resolvi tomar uma água antes...

Minha mãe vira e pergunta: vai de carro ou vai à pé?!

Pronto, decidi!: vou à pé!

Como poderia não considerar essa alternativa? E, entre um carro e outro, a melhor opção era subir correndo.

Subi, feliz, na boa... "Vai com um carro ou vai com outro?" ~ quem se importa?

Treinei.

Na hora de descer eu soquei uma lixeira, só que sem ser avisado. E dói. É uma dor daquelas que dá quando a gente dá uma pancada com algo pontudo entre os ossos. É uma dor incomodante demais. É do tipo que parece que tem uma bola crescendo entre os nervos.

É melhor dormir e não ter mais dúvidas.

27 de jun. de 2012

Tudo o Que Não Dá Para Acreditar

Eu simplesmente não consigo acreditar em ação coletiva. Eu sei que o mundo funciona de acordo com a ação de cada um. E, se ao fim, você já teve a ilusão de algum dia ter visto alguma coisa mudar pela ação de muitos juntos, acredite que essa ilusão se dá apenas pelos mecanismos linguísticos. O que você viu não foi muitos numa ação, mas sim o resultado de muitos esforços individuais somados.

Não dá para acreditar que precisemos mobilizar. Precisamos é agir. Não precisamos vislumbrar os mesmos fins: precisamos apenas abominar a situação em que estamos.

Isto não é poesia, muito menos eu queria que fosse. E pode até não parecer uma crônica, talvez porque de fato não o é. Isso é apenas...

25 de jun. de 2012

Eu Nunca

Eu nunca menti na vida, eu nunca escrevi poesia, eu nunca falei verdade, eu nunca soube ao certo. Eu nunca escolhi nada, eu nunca me expus a algo, eu nunca tomei decisão, eu nunca fui influenciado, eu nunca foi objeto do destino. Eu nunca fui infeliz, eu nunca vi felicidade, eu nunca acreditei em alegria, eu nunca fui descontente, eu nunca me enfezei à toa, eu nunca botei fé em fúria, eu nunca deixarei de ser tão aprendiz.

19 de jun. de 2012

Reprise

Todo dia eu vivo
E nem me dou conta
Devagar eu vou
Fazendo todo dia
O que eu faço
Inconscientemente
Eu vou replicando
O meu nome

16 de jun. de 2012

Cotidiano No. 4

Eu sinto falta de água na minha boca. Há três horas que eu só tomo pequenos goles de cachaça e grandes tragadas de vinho. Minha cabeça é uma esponja, e tudo foi absorvido por ela.

Sinto dificuldades de digitar, de pensar e, até mesmo de manter os olhos abertos. Mas, apesar de tudo, eu digito pensando e, surpreendentemente, vendo o que eu escrevo.

Minha cabeça gira quando fecho os olhos e as minhas pernas formigam. Eu fico ouvindo um zumbido e minhas pálbebras pesam.

Ontem eu sonhei que tinha raspado meus cílios, acordei desesperado. Hoje nenhum sonho terei. Meu sono será um desmaio.

24 de mai. de 2012

2005

Estamos no novíssimo ano de dois mil e cinco,
estamos curtindo ondas no verão.
Estamos no novíssimo ano de dois mil e cinco,
e temos duas mil e cinco armas na mão.
Estamos no ano de dois mil e cinco.
Estamos em algum lugar a algum tempo atrás.
Estamos no novíssimo ano de dois mil e cinco,
e esse ano já não é tão novo mais.

23 de mai. de 2012

Elogio à Timidez

Eu tenho ouvido tanto falar
E tem-se tanto discutido
                              de mim
Tenho escutado tantos elogios
Que meu ego fica insuflado
Como um balão
Um grande balão de ar quente,
vermelho
Crescendo, crescendo
Meu ego insuflado
Como um balão de borracha
Inflado e vermelho
Tão grande e tão fino
Que é capaz de estourar...



Esse é o mais triste dos fins: o estouro do ego.

20 de mai. de 2012

Cotidiano No. 1

Uh! Um banho às duas e meia da madrugada: nada pode ser mais reconfortante (esse adjetivo de propaganda de sabão-em-pó).

Uh! Um banho é um momento complicado. O banho é o momento mais e menos tenso do dia. Eu penso de tudo no banho...

E já é tão complicado pensar na vida toda... tem dias que eu só quero me afogar e renascer debaixo do chuveiro; às vezes eu só quero saber quantos dias anda durando o meu sabonete.

É difícil pensar no meio da água quente! Mais difícil é tentar rodar até o ponto certo o registro da água para que ela não fique nem muito quente, nem muito fria... e eu fico ali, entre o inferno e a Antártida. Ah, que raiva eu tenho! 

Eu preferiria uma banheira, mas isso não existe pra mim. Eu lembro! Eu nunca tomei banho de banheira. Já tomei muito banho de bacia, banho de jarro, banho de piscina... Deus! A piscina hoje estava geladíssima e os ventos congelantes... Do que eu eu estava falando mesmo?

Ninguém nunca fala durante o banho. O que eu estava pensando? EU não penso em guerra, eu não penso em política, eu não penso em sociedade dentro do box: eu penso em MIM.

Já está tarde, eu tenho sono, talvez eu tenha bebido um pouquinho demais! É hora de desintoxicar, deixa a  água rolar pela pele, depois é água pra beber... amanhã é outro dia.

27 de abr. de 2012

Zé Ninguém

Com certeza, uma das frases musicais mais inteligentes que eu já vi é "Todo dia eu levo um tiro que sai pela culatra". Se fosse pra resumir - caso já não seja -, eu usaria, com o perdão da expressão: Eu só me fôdo (se é que essa conjugação de foder leva circunflexo - se é que o verbo foder existe).

Todo mundo sabe que é uma música do Biquíni Cavadão - e se não sabe, deveria saber -, Zé Ninguém. Um dos melhores produtos de uma das melhores bandas do Brasil.

No fim das contas, quem não é, de fato, um Zé Ninguém? Eu, por exemplo, sendo alguém com identidade, características, manias e cidadania, continuo sendo um Zé Ninguém. Talvez a única coisa que me tire desta condição seja o meu gosto por escrever. Aí eu me sinto um tiquinho Jão Alguém.

24 de abr. de 2012

Tudo e Nada

Eu descobri que Tudo e Nada são muito relativos (e o que no mundo não é?).
Desde certo momento, em que eu achava que tinha tudo,
eu passei a me sentir sem nada só por causa de uma coisa.
Daí eu pude perceber que ter tudo pode ser impossível,
caso você não tenha uma coisa que é quase nada.
E desde então, por causa disso, eu me sinto com nada,
mas tentando ter tudo.

23 de fev. de 2012

Homem

Um homem se constrói com pedras, ferro, argila, nervos e uma mão forte para moldar tudo.

13 de fev. de 2012

Um Estilo

Eu vou comprar um estilo. É um estilo simples, barato, elegante... eu vou comprar! É aquele estilo quieto, de canto; um estilo leve, bem útil, que caiba em todos os momentos. Eu vou pagar muito pouco. Vai custar apenas um pouco de dedicação. Mas eu vou comprar esse estilo, mangas arregaçadas, mão no bolso, quando no ócio; as mesmas mangas e garras nos dedos, quando precisar trabalhar.

É um estilo que exige certo afinco. Mas eu vou comprar. Pra mim isso não falta. Eu vou comprar esse estilo. E vou usá-lo até morrer, depois vendê-lo a alguém.

6 de fev. de 2012

O Que É o Respeito?

O respeito é uma coisa grande que se aprende de pequeno e que é muito importante até para as coisas mais banais.

Saber respeitar é para poucos. E, se algum dia surgir a dúvida sobre quem se deve respeitar, saiba que qualquer pessoa leviana por aí indicaria que se respeite a todo mundo - mas isso não é o correto: você deve respeitar aqueles que te respeitam e desrespeitar, não a pessoa diretamente, mas sim as regras daqueles que te desrespeitam.

4 de fev. de 2012

O Abraço

Às vezes eu quero abraçar o mundo. Às vezes, e só às vezes, isso é tudo o que eu quero. Mas às vezes eu também me faço de surdo. Não ouço, nem por decreto, os clamores. Eu nego. Eu acho, que bem no fundo, isso é que é ser humano. Pra mim parece um infinito mistério: querer tão bem o mundo, depois ignorá-lo. Vendo que sou tão profundo, um pouco me desespero.

2 de fev. de 2012

O Trabalho

Eu só dou valor ao trabalho se ele terminar ao fim do dia, se der dor nas pernas, braços e costas e se ele tirar o peso da minha cabeça, para eu dormir melhor nesta noite.

25 de jan. de 2012

Aposto

Aposto sem temer estar errado que o medo de escrever vem do fato de quase sempre ter a impressão de que muitos lêem o que você demonstra e poucos abrem o coração pra te dar algo em resposta. No fim e ao cabo, sempre parece que você fala a ninguém, com todo mundo te ouvindo. Ou que, no antro da consideração, as pessoas te julguem capaz de entrar e somente à indiferença hão de te destinar.

18 de jan. de 2012

Pacificando

PAZ





A paz é assim, ela gosta de ficar sozinha, encolhidinha em um canto, pacificando a si mesma.

13 de jan. de 2012


Onde Foi Que A Humanidade Falhou?

Em algum momento, a sociabilidade falhou.

Fico tristíssimo ao perceber o quanto a minha felicidade vem sendo menor: pode parecer uma tendência ao culto da infância, mas eu não digo nesse sentido. Falo de como a vida cotidiana no presente vai vendo seu sentido se esvaindo, mais e mais.

Houve um tempo em que meus pai, mãe, irmão e eu disputávamos (e às vezes dispensávamos) a tela de uma televisão, buscando assistir jornal, novela, desenho ou documentário. E, independente do que estivesse passando, e de quem tivesse escolhido a programação, estávamos os quatro ali, presentes de corpo e alma, absorvendo o conteúdo que queríamos, discutindo o que não queríamos... enfim, estávamos ali nós quatro.

Esse era o tempo em que o sofá não comportava os seus pés, sala não era lugar de comer - e cozinha, consequentemente, não era lugar de assistir televisão - falar palavrão dentro de casa era barrado e dormir cedo era a melhor alternativa.

Em algum momento, esse sistema falhou. E eu pergunto o porquê.

Nunca esqueci a imensa felicidade com a qual compramos uma televisão nova, pra substituir a velha, e depois uma menorzinha, pra colocar no quarto com o videogame, e depois uma gigante de plasma, pra ficar ligada o dia inteiro junto com as outras duas, e um computador pra todos, e depois um notebook pra mim, e mais um notebook, de modo que cada um na casa tivesse o seu próprio computador...

Me parece um desenvolvimento insano. De maneira nenhuma minha felicidade hoje é maior.

Eu sei que não falhou só na minha casa, mas o projeto de vida hoje é vazio na generalidade da nação.

Eu me sinto triste.

Cada um vive numa bolha, pensando em viver cada vez melhor.

Adrenalina era correr pra não ser pego antes de tocar o pique. Mas já temos a opção de escapar de um ataque terrorista em qualquer game de tiro em primeira pessoa.

Eu fico ainda mais triste.

Estou junto dos meus amigos e familiares. Ao mesmo tempo estou distante. E, ao contrário do que espalham por aí, eu não estou conectado ao mundo: eu estou afundado em mim.

1 de jan. de 2012

Mensagem Para o Novíssimo Ano de Dois Mil e Doze

Minha mensagem pra dois mil e doze não é para um ano, para uma pessoa, nem sequer para esse mundo. Minha mensagem desse novo ano não é diferente daquela que eu tive para o ano passado, porque este já foi um ano futuro também. A mensagem é sempre a mesma, e ela está em cada ato, cada olhar meu, cada gesto, cada palavra que eu balbucio e até mesmo nos perfumes que eu exalo. A mensagem é um código, que só pode se decodificar a partir de uma chave: PAZ.