Coleção de Textos

28 de nov. de 2011

Caso

ÀS VEZES eu sinto falta de ter um lugar para estar no fim da noite. E muitas luas passaram com a minha angústia de estar onde não quero estar por não saber estar onde eu quero ir. 


Muitas vezes, eu me sinto só e só sinto que talvez eu só queira estar em casa. Mas caso isso seja o caso, eu não sei o que é essa vontade estranha que me bate casualmente.

Hoje

Hoje eu só quero escrever, sem nem olhar ou reler o que escrevi. E vou escrever assim, descuidada e desesperadamente, porque a angústia é o lápis, a consciência é borracha.

17 de nov. de 2011

Conservando

Estou disposto a desposar qualquer bela simples, singela e quieta que por mim passar blefando o seu destino e, assim que eu o fizer, lhe darei conforto e vida fácil, trato, traje pra casa e festa e de festejarmos viveremos, tantos anos, com muitos filhos, muitos pequenos; e de tantos filhos, uma netarada, que me ajudarão, brincarão na estrada de terra, porque será rural, bucólica e bela a nossa vida.

E viveremos do nosso trabalho. Não de trabalho de pouco peso, nada de fazeres citadinos, nada de restar obeso num canto de uma poltrona, enquanto perco os cabelos por preocupação que vem das coisas inventadas e dos tantos problemas que os homens se arrumam hoje para si. 

Plantarei tudo o que a terra puder me dar, e que der para meus filhos, netos e a quem mais precisar sustentar, porque nisso não vejo problema, nunca sofri do mal da alma pequena, não me complico em favorecer quem quer que seja com um pouco do meu trabalho.

E a minha casa será simples, forte, sólida e cara. Será cheia de bugigangas e parafernalhas, tudo o que a minha cabeça me deixar inventar e produzir, conforme a data de vida que Deus permitir, e tudo o que fizer quererei deixar, para cada um que passar por meu lar, como uma simples lembrança da existência de um eu, que talvez nunca mais volte a si.

E eu viverei assim, pouco me importando para o que dizem que é melhor que o meu, mas nunca deixando de querer o que eu posso ter de melhor de mim: a vida conservadora é um pouco assim, e se suspirou três vezes ao imaginar, ou se pensou em que melhor nisso poderia ser, é porque conserva também a essência em você, conservando a tradição contigo seguirá.

9 de nov. de 2011

Sem Jeito

Eu sou meio sem jeito... mas isso já me deu muita coisa boa na vida: eu tropeço, caio feio um tombo, levanto, me arribo, bato um soco no peito, me reafirmo sem jeito, logo me recomponho, jogo a mala no lombo, me idolatro, digo que aguento, restauro meu sonho.

Eu sou de veras sem jeito. Tenho jeito mesmo não. Eu teimo, faço birra e manha, tamanha artimanha, irrito o cão, vivo vivendo, pra baixo e pra cima, cantando em rima, me alegra a canção.

Eu sou realmente sem jeito. Mas é que eu sou assim: não atuo, não finjo, amargura ou dor, nunca me restrinjo em praticar meu amor.

Minto

Eu minto
Minto descaradamente
Afinal,
Quem neste mundo não mente?

Eu finjo
E nem me sinto culpado
Qual parte
Nisso poderia ser errado?

Eu sei
Todo mundo é assim
E tem gente
Que ainda mente pra mim

Descontente

A gente não consegue se contentar com o pensamento de que o mundo é grande. Parece um desafio. E aí a gente fica achando que a nossa vida é que é grande demais, a gente quer ver tudo, em todo lugar. Mas não, não dá. O mundo é gigante, a vida um grãozinho. 

Por mais que eu me sinta descontente, tenho que me contentar em apenas estar por aqui.

8 de nov. de 2011

Dormir

Se eu for dormir bem agora
Será que consigo sonhar
Com você agora em sua casa
Perdida ao em mim pensar


E se for dormir bem agora
Vou voando até o teu quarto
Em sonho eu vou flutuando
Beijar o teu corpo intacto


E se eu não dormir bem agora
E é o que provável farei
Ficarei muito atormentado
Ou então nunca mais dormirei?

7 de nov. de 2011

Paródia

Às vezes no silêncio da NOITE...
Eu FICO QUIETO no  escuro.

Meu Nome

São poucas vezes que me lembro de ter nome. Hoje foi uma delas. E de fato tenho, tenho nome, tenho filiação e tenho orgulho de tê-los. Mais, tenho história, tenho paixão e sinto felicidade de pensar que tudo o que tenho, com meu nome vou passar.

Confuso da Alma

Leitura de alma? 
Na alma penada
A mão não tem palma
Não sobra mais nada


Minha? 
Não poderia ser
Alma eu não tinha
Não consigo deter


Sua? 
E profunda
Pálida e nua
No vazio redunda


Sou alma confusa. 
Fantasma elegante
Verdade difusa
Pairando galante


Sinto a alma lida
Sob um novo ânimo
Confundo a vida
A minha e do anônimo

6 de nov. de 2011

E Fim

Pronto!
Já posso morrer,
Se for minha hora.


Avante!
Espero que isso
Não seja agora.


Adiante!
Começar é difícil,
No fim que melhora.


Aguente!
Tome seu caminho,
Vá logo embora.

3 de nov. de 2011

O Tempo de Um Ano



Na estrutura do tempo
Não sei o que anda errado
Coisas demoram bem menos
Chegando ao mesmo estado
A vida fui observando
Até ter reparado
E quando eu espero um ano
Eu posso fazê-lo sentado

2 de nov. de 2011

Eu Quero Mais

Eu quero mais do mundo, eu quero mais de ti, mas eu me nego a dar mais de mim. 


Eu quero mais de tudo, eu quero mais sentir, mas eu não posso me doar assim.


Eu quero mais, eu quero mais, eu quero mais, mesmo sem saber o que pode ser mais que o possível.


Eu quero mais é que você ignore o que eu quero demais.

28 de out. de 2011

A Mensagem

Deus já ensinou que a vida é pra levar doce, e não viver de ódio.

26 de out. de 2011

Manual das Regras da Vida

Regra 1.: Se você comprar uma caixa de cerveja, bota todas as garrafas na geladeira, tire uma foto e põe no Facebook. Isso não serve, no entanto, para os outros feitos da vida. Evite, inclusive, tirar foto de quando você fizer alguma coisa útil, como ajudar um velho, lavar um carro ou encontrar um amor.

Sonhei Voar

Vez ou outra eu sonho, numa situação recorrente, poder voar pelas ruas - uma vontade persistente. E toda noite eu me iludo, e quando percebo que estou apenas na cama, vejo que voar não posso, e o desejo de mim ainda emana... e quando à noite novamente me ponho em sono, novamente a ilusão a mim retorna, e eu vôo pelas ruas sem controle, vôo até que ao despertar chega a hora.


Mas hoje, em meu sonho, foi diferente: voei, sobre carro, sobre árvore e gente, mas o meu sonho foi mais além, e voar já não sabia se fazia mal ou fazia bem; hoje eu pude voar sobre as casas, muito espantado e sem controle, sem asas; e de repente vi meu sonho ruir, pois o prazer se misturava ao temor do cair.

25 de out. de 2011

Assim

Não digo que não
Não digo que sim
Só vou fazer da vida
O que ela quer de mim

O Almoço

Ainda é manhã
Eu rôo um osso
Fico parado
Esperando o almoço


O dia é pequeno
É quase um caroço
A morte é um banquete
O fim é um almoço


Remoendo tristeza
Lendo um colosso
A espera é brisa
E o vento é um almoço


A consciência é rasa
O estômago é um poço
A água é vida
A vida é um almoço

Hoje...

Eu acordei feliz,
Fiz o café,
Nem tomei,
Me entristeci de novo,
Fui trabalhar


A vida na cidade é assim
Não há que estar feliz
Não há que sentir bem
Não há que pensar
Não há que viver


E é preciso estar em gravata
É preciso estar em um terno
Quando é querer que este terno
Não seja o tecido
Mas sim um terno abraço

24 de out. de 2011

Fazer História

Fazer História exige muito da cabeça. Não por ser complexo, mas pela necessidade do esforço constantemente presente de pensar em que pensar.


Fazer história exige muito do caráter. Não para tomar as rédeas do tempo, mas sim para atuar na sua própria vida.


Fazer história exige muito do físico. Não para confabular bulhas com as estrelas, mas para escrever a narrativa sem fim.

Escreve-Esconde

Seja atento ao analisar,
Pois arte de escrever,
Antes de demonstrar,
Tem muito mais de esconder

Um Homem

Eu nunca vi muita graça nas coisas sem sentido da vida. E nunca dei de entrar em caminhos que parecem não ter fim ou que vão tortuosos pro horizonte.


Eu não sei qual é o valor das coisas efêmeras, eu prefiro as coisas estáveis. 


E tendo a oportunidade de ter algo por um momento, acho melhor nem tê-lo, seguindo assim no estático caminho da mesmice e da indiferença.


Como poderia eu me enveredar errado por um beijo, ou por um momento de loucura? E para que quereria me desconstruir por um momento de riso e um pouco de história para me vangloriar - sem glória?


A glória está na existência contínua, e nos princípios fundados. É nisto que consiste a alegria


E eu continuo aqui tentando entender o que um menino deseja da vida, quando a vida só deseja dele que ele seja e atue como um Homem.

23 de out. de 2011

Poema Falso

LEIA ESTA OUVINDO ISTO


A paixão é assim... você olha pro lado e, de repente, ela está lá. Ela está lá linda, com os olhos bem abertos te olhando bem no fundo do corredor da sua mente.


E você fica bobo, porque ela está ali, te golpeando com um cajado, e você faz uma reverência imaginária. E você está perdido no meio do caminho entre a sua alma e ela. A distância é grande e não significa nada, mas ainda assim você não tem pernas pra percorrê-la.


A paixão é assim... é um raio. É um choque, é um cheiro... 


E quando você percebe, o tempo se foi. A paixão está com você. Ela já não mais. E você deveria ter notado o sinal de aviso. Devia ter caído na real antes que perdesse a melhor parte.


A paixão é um choro.

20 de out. de 2011

O que o Mundo Exige de Você

Muitas vezes você pensa que o mundo é místico
o mundo é mágico
o mundo é mogno...


Mas na verdade o mundo é digno
o mundo é magno
o mundo é lógico


E na sua varanda a vida é triste
a vida é pálida
o clima é bucólico


E você ensaia uma emoção
ensaia uma farsa
surto psicótico


Quando na verdade o mundo espera uma birra
espera uma mágoa
som de clavicórdio


E o dia se acaba de véspera
você ali sentado
um gato no colo

19 de out. de 2011

Crônica Amarela

Eu tenho uma vida pacata. Uma vida e tanto. 


Acredite, minha vida é perfeita. A sua também é... todas as vidas são perfeitas, simplesmente porque vivos estamos.


Hoje eu caminhava pela rua, perdido nos meus pensamentos... Ah! Pensamentos são cinzas. São cinzentos, são cinzantes: tudo fica cinza quando você se perde em seus pensamentos. Ainda mais quando você caminha pela rua cinza, com pessoas cinzas e cinzas no ar.


Eu não aguentava mais! Eu não aguentava mais o quê? Eu aguentava sim!


E mais uma tarde ia-se comigo remoendo assuntos pequenos enquanto coisas maiores e mais simples rolavam no mundo.


Quando eu passei em frente ao salão de treino de Tae-kwon-do, eu vi na sacada um menino cego. Eu sei que ele é cego. E eu tomei de novo um soco na barriga, assim como quando da vez em que o vi fazendo exercícios na academia que eu frequentava.


Minha vida se tornou pequena. Eu entrei num exercício de sadismo de pensar diversas vezes o quão insuportável seria pra mim viver a vida sem minhas vistas. E assim eu tendi a pensar que a vida dele seria menor que a minha, mas não! A dele era maior. 


Uma criatura com uma vida maior.


Nessa hipocrisia de me diminuir, de menosprezar meus sentidos, minha vida; uma vez ou outra eu trombo uma figura dessas na rua... dessas que compõem um soco na boca do meu estômago. E aí eu vejo que eu me sinto mal à toa. Mas também não me fazem sentir bem, apenas pensativo.


Nada diminuía minha aflição: ao ver ele na sacada - ele com seus olhos cegados olhava o céu, tomava um ar e ajeitava o seu roupão de luta amarrado com uma faixa amarela.

Velocidade!


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Velocidade! 
Eu preciso de velocidade...
Correr um pouco, ofegar
Talvez chegar perto de voar
Velocidade!
Eu preciso de velocidade...
Vento frio, boca seca
Cansaço e dor
Velocidade!
Eu preciso de velocidade...
Me sentir o maior do mundo
Ouvir o coração bater no pescoço dilatado
Velocidade!

O Universo

O Universo é um grande vazio
com tudo dentro


O Universo é um pano de fundo preto
com pelinhos brancos infinitos
presos aqui e acolá


O Universo é uma bola gigante de vidro
com bilhões de trilhões de bolinhas girando dentro


O Universo é
dos grandes
o maior


E ainda assim eu vivo fora dele
sonhando com o meu mundinho

Seu Nariz

Menina, e esse seu nariz
Que aponta o céu
Como que ri de mim
Como que esnoba o meu estar


Menina, vem me fazer feliz
Me dá um beijo
Me sossega
Pára de esse seu nariz você empinar

18 de out. de 2011

Mãe!

Mãe!


Eu to querendo namorar
Aquela moça bonitinha
Que tem brilho no olhar
Pele parda
E a boca redondinha
Aquele jeito de andar, mãe!

Tô querendo namorar
Ela que é toda certinha
Soube como me fisgar
Eu tô pêgo
E na sua cinturinha
Ela soube me enrolar, mãe!




17 de out. de 2011

O Pôr do Sol


É tão bonito, 
e é tão raro.
É tão gratuito, 
mas é tão caro.

16 de out. de 2011

Nada com Nada

Eu não suporto o Nada. Nada, pra mim, não vale.


Mal poderia resumir minha vida a Nada, mas nada posso acrescentar. Todo dia é um Nada fugindo de si mesmo.


Nada é o que é. De Nada viemos, ao Nada iremos.

Portais















Horizonis Aeris



















15 de out. de 2011

Se

Eu sei que conseguiria,
se tentasse.
E não importa o que eu não tive,
eu conseguiria,
se quisesse.
E mesmo que fosse paixão grande,
e se fosse a fim,
mesmo que não estivesse.
De qualquer maneira,
eu conseguiria,
se me movesse.
E se não movi,
foi porque não quis.
Com esse pensar, 
vivo mais feliz.

13 de out. de 2011

Destino

Calculo, calculo
e tudo dá errado.
Eu vivo sujeito
ao meu predicado.

5 de out. de 2011

Nada A Declarar


Tem Um Leão Rindo Alí


Será que só eu vejo um leão sorridente de turbante nesse detalhe da minha toalha de banho?

Se for, que pena do mundo, que não sabe qual é a felicidade desse leão.

Tem dias em que tudo corre bem, e eu o vejo lá, rindo das piadas e do mundo, rindo das situações e de felicidade, pelas garotas bonitas que andam pela rua.

Mas quando nada anda bem, lá está ele zangado. A boca aberta como quem esbraveja algo problemático. Um leão feroz que não vê limites.

E nos dias de sonolência, ele está lá bocejando eternamente.

E nos dias eu que eu não estou nem aí, ele também nem está lá.

4 de out. de 2011

Autoretrato - Eu por Mim



E Eu

O Tudo é  Santo
O Tempo é Louco
O mundo é tanto
E Eu sou tão pouco

3 de out. de 2011

Que Será Que Será?

Sobreviver aos dias com fé,
trabalhar desmensuradamente por um futuro
e acreditar em tudo o que há por vir.
Alguém me diga: onde sobra tempo pra amar?


Se resistir já é difícil,
como esperar retribuir?
Se o tempo e o espaço se tornam tão apertados
   e inóspitos,


se se acabam as oportunidades do ócio,
o que será de mim?
O que será para os outros
   que eu ainda possa oferecer?

8 de ago. de 2011

Sumiço

O sumiço é coisa engraçada: 
tem algo ali, 
logo não há mais nada. 


Tudo some algum dia, 
porque sem sumiço,
que da vida seria?


Que seria do atraso 
se não sumisse as chaves, 
do seu bolso raso?


Que seria desepero
se, dia ou outro,
não sumisse dinheiro?


Sumiço é coisa latente,
do qual o mais doloroso 
é o sumiço de gente.


E ele só vai se esvair
quando um dia, por fim,
eu mesmo sumir.

26 de jul. de 2011

As Coisas e Seus Tipos

As coisas, elas são de três tipos: 1. as definidas, 2. as indefinidas e 3. as que não conhecemos.

As definidas, nós as já as definimos; as indefinidas, nós já conhecemos, mas ainda as definiremos; as que não conhecemos... bom, eu as desconheço.

Quanto às coisas que se desconhece, diz-se que não existem. Mas sabemos que elas existem nos mundos do desconhecido.

Os mundos do desconhecido, sabemos que são de dois tipos: 1. os das coisas nunca vistas, e 2. os das coisas ignoradas.

No mundo das coisas nunca vistas (diga-se também não tocadas ou cheiradas), há tudo aquilo que você nunca poderia imaginar, tudo o que nunca conseguiria compreender. Já no mundo das coisas ignoradas, há tudo aquilo que você não sabe que existe e que, se pudesse saber, prefereria não tentar.

E para tudo na vida há um dois ou três tipos, 1.  aquilo que pode ser, 2. o que pode não ser e 3. o que não tem nada a ver.

24 de jul. de 2011

Problemas & Problemas

Acredito numa História sem volta. Acredito que a História é sem fim. Sem fim é a sua capacidade de trazer problemas, um após o outro, dia após dia.


Embora eu não estude sistematicamente o que o que eu digo quer dizer, como eu não me entrego a devaneios calculacionistas, eu apenas reflito.


Tudo na História e tudo no tempo são problemas. Problemas nos impulsionam pra lá e pra cá.


Há problemas graves e outros que fingimos que os são. Há problemas meus, seus e dos outros. Há problemas que vem e que vão.


Problemas são problemas. Soluções são outros problemas que criamos pra sumir com os problemas anteriores.

6 de abr. de 2011

A Fala [e a Escrita] Como o Exercício de Esconder a Verdade

Eu nunca vi ninguém que falasse exatamente qual era a verdade. Mas eu já vi muita gente ter razão ao dizer alguma coisa. Ou seja, por mais que eu compreenda o esforço de uma pessoa em expor a verdade sobre alguma coisa, algo sempre nubla a fala, de modo que eu nunca posso dizer que isso é a verdade. 

Parece, pois então, que a verdade nunca poderá ser dita. Se não pode ser dita, acredito que tão pouco possa ser escrita, já que a escrita é o diálogo que não passou pela boca mas pelos dedos. Dessa maneira, todo o esforço literário e de discurso que já houve no mundo nunca alcançou o objetivo, supondo que este seja o de dizer uma verdade (falo sobre textos e discursos científicos ou mesmo do cotidiano que fogem daqueles do blefe, que objetivam realmente esconder a verdade).

Mas, no entanto, desde que surgiu, o discurso - e a escrita - nunca chegou ao ponto de ser abandonado mediante à sua ineficácia de atingir o objetivo pressuposto de exprimir a verdade. Disso temos que ou o seu objetivo (e seu uso) hoje é pervertido, ou então a objetivação pressuposta não é a verdadeira - o que seja um ou seja outro, no fim, me parece o mesmo. O discurso, portanto, é uma ferramenta de esconder a verdade. 

Essa assertiva pode parecer incorreta na medida em que averiguamos que, para nós, mais valoroso é um discurso quanto mais à verdade ele corresponde. No entanto, posso afirmar com pé seguro que um discurso é tão mais apreciado quanto menor é a evidência que ele deixa transparecer da nublagem que faz da verdade, ou quanto mais verdadeiro ele faz parecer a versão que ele exibe.

Nessa medida, temos que a fala - e, por conseguinte, a escrita - é o exercício de esconder a verdade, tentando sobrepô-la com uma imagem verossímil.

Talvez esse tipo de raciocínio não valha nem a pena ser desenvolvido se pensar-se em, de uma maneira pessimista, categorizar a verdade como algo inexistente ou a falar, como até os cães já ladram por aí, que a verdade é relativa.

A verdade existe. Não porque ela seja inexprimível é que ela inexista. É inexprimível, mas não inapreensiva.

4 de mar. de 2011

(In) Dependente

   O ser humano é dependente. Dependente de dividir tudo aquilo que tem ou que terá, por mais minúsculo e irrepartível que seja. Está feliz, divide. Está triste, divide. Mal humorado, divide. E o amor, então? É o que mais se divide entre os outros, o que mais se orgulha em se repartir e se tornar um.


Talvez nós, humanos, nos sintamos incapazes de carregar tanta carga em si, sozinhos. É um dividir invisível. Divide com um olhar, com um abraço, uma simples palavra, um inusitado sorriso, uma lágrima não desejada.


O ser humano tem preconceito com independentes. Sim, preconceito. É “inaceitável” tal viver sozinho, ou querer ser feliz assim.


E quando se guarda os problemas? Oh, te taxam como egoísta por esconder a sua responsabilidade. Ei, eu quero te ajudar.


Ei, você precisa de mim. Ei, talvez... passe lá em casa, eu te ajudarei. É assim e sempre vai ser.


São como formigas, acham que uma só companheira é irresponsável e talvez não consiga carregar tudo sozinha, mesmo sendo só dela aquela migalha de pão.


Depender-se de si é uma boa escolha. 


Camilla Ferreira

3 de mar. de 2011

IDIOSSINCRASIAS

GÊNERO: CRÔNICA
AUTOR: MURILO VASQUES CARMINATI AMATI


   O Túlio, ele queria ser dentista. Mas onze anos passaram e ele não é dentista, ele é arquiteto. Mas tá bom. Nada que não passe, tudo há de passar. O Túlio vive a pensar nos tempos em que queria ser dentista, Que sonho bobo! ele diz. Mas era o que eu queria, ele pensa. 
   A Dalva, ela não gosta do nome dela e prometeu ganhar grana para trocar de nome, quando fizesse vinte e um. A Dalva ganhou grana, conseguiu dinheiro pra caramba, com a sua grife, a D'Allva. Ela não trocou de nome - seria loucura se o fizesse agora - e ela esqueceu esse sonho bobo. Dalva é até legal, se você pronunciar corretamente, pensa ela.
   Já a Helen, a Helen queria um homem grande para sua vida, daqueles com aspecto de lenhador, mas com a especificidade daqueles que estão abaixo do Trópico de Capricórnio. É o estilo que eu gosto! diz a Helen. Mas o que ela conseguiu foi um homenzinho barrigudo, um businessman da capital paulista. Um sujeitinho que até dois anos usava um bigodinho escroto. Não durou muito, porque a Helen quer o "seu estilo de homem" e pra ela não ia poder seguir assim. Bom, a Helen deu o chute no seu engravatado, trocou por um workman da construção civil. Não era completamente um pé rapado, mas não era muita coisa. Era o seu estilo. 
   A Helen não tem nada pra pensar, nem pra dizer.

2 de mar. de 2011

PÊGO NUM IMPASSE

GÊNERO: CRÔNICA
AUTOR: MURILO VASQUES CARMINATI AMATI

   Eu nasci gordão. Eu fui um bebê de quase cinco quilos. Não é por nada não, mas ser um bebê de quase cinco quilos não é pra qualquer um. Eu cresci gordinho. Eu sempre fui uma bolinha. Quer dizer, nem tanto: eu era fofinho, mas na minha "preadolescência" eu era rechonchudo. Estilo Sancho Pança. Eu era feliz assim, pelo menos achava que era: eu não tinha nenhum problema de saúde e me sentia muito bem, mas tinha alguma que limitava toda a minha potência.
   Aos onze anos, comecei jogar basquete. Aos treze, já tinha me tornado uma pessoa "magra", ou pelo menos aparentemente magra. Na verdade eu continuava acima do peso, só que muito mais alto e muito mais aceitável, segundo padrões de saúde. E forte. Eu aprendi, então, como correr e pular é muito bom. Como é prazeroso poder se deslocar no espaço com uma destreza maior do que a gordisse nos proporciona.
    Gordinhos e gordinhas que venham a ler este texto, não encarem isso como um insulto à gordisse. Aliás, nunca nem mesmo deixe que alguém os chamem de gordos (como eu fiz ali atrás), como se os gordos fossem uma raça diferente dos magros, ou dos normais. Estar gordo é comum e é tão fácil largar este estado quanto mudar de roupa. Apenas exige disposição. Você precisa querer e fazer.
    Talvez, você que sofre com a obesidade não saiba o que há de bom no mundo para aqueles que emagrecem, mas eu posso dizer que é muito melhor ser mais leve e, principalmente poder correr por aí quando der na telha. A sensação de liberdade é incrível.
   Meu irmão é gordinho, quero dizer, está gordinho. Disse pra ele procurar ir jogar basquete, ou então lutar judô. Eu sou do tipo de pessoa que acredita que o esporte é necessário. Mesmo que esses dois caminhos não funcionassem como emagrecimento, seriam ótimas maneiras de gastar a energia do dia-a-dia e livrar a cabeça de alguns pensamentos ruins. Fora o número de amigos que se ganha, além do tédio que se joga fora. Eu só quero que ele FAÇA ALGUMA COISA.
   Ele, como bom gordinho acomodado me respondeu apenas com um "NÃO". E quando eu perguntei o porquê dele não querer praticar estes esportes, ele me disse que não gosta.

Agora sim começa o grande impasse desta postagem. Chega a ser um impasse filosófico.

   Eu, num primeiro momento, me perguntei Como se pode não gostar de algo que nunca se experimentou? É como dizer que não gosta de salada, sem nunca ter comido. Mas, enquanto eu pensava nisso, um outro pensamento mais sombrio me passou pela cabeça...
   Uma vez numa festa da faculdade estava eu pregando o meu machismo: "Não, eu não quero ser gay!" respondia a um colega de curso que prega a "liberação sexual". Eu sempre fui do partido conservador quanto a estas questões. E guardo pra mim o meu direito de estar com a razão. Tenho certeza absoluta, de mim comigo mesmo aqui, que ser homossexual não deve ser lá muito vantajoso ou prazeroso. Duvido que haja prazer em tocar outro homem, sexualmente falando, e isso pra mim até parece um certo grau de masoquismo.
   Digo de pronto que eu não gosto de ser gay. E eu nunca tentei. Então será que eu não deveria dar ao meu irmão a possibilidade de não gostar de ser um atleta, mesmo sem nunca ter tentado?

   Esse impasse, no meu ponto de vista filosófico, fica respondido pelo seguinte argumento: todos nós sabemos que há um bom senso que nos diz o que é plausível. E parece ser plausível que meu irmão faça esportes e que eu não vire gay.
   Talvez haja uma carga enorme de preconceitos nisso, talvez preconceitos contra as pessoas que não querem fazer exercícios, e talvez preconceitos contra as pessoas que querem "copular" com pessoas do mesmo sexo. Só que eu guardo pra mim todo o direito de querer bem ao meu irmão por sua saúde e também me guardo o direito de não querer outro homem tocando em mim.
   Por isso eu insisto tanto para o meu irmão ir fazer alguma coisa, bem como para o meu colega parar de insistir em pregar a sua ideologia pra mim.

1 de mar. de 2011

O BEIJO

GÊNERO: POESIA
AUTOR: MURILO VASQUES CARMINATI AMATI


Tem beijo que é ruim
Só de ouvir o som
Mas sabe quando tem
Aquele beijo que é bom?


Eu não sei se é arte
Não sei se é dom
Mas sabe aquele beijo
Que é muito bom?


Pensei ser um sonho
Mas não era não
Era realmente
Um beijo do bom.


De alguns eu não gosto
Outros não têm o tom
Eu só gostei na vida
Desse beijo bom.

28 de fev. de 2011

E FOI

GÊNERO: CRÔNICA
AUTOR: MURILO VASQUES CARMINATI AMATI

   Vergílio é que era um cabra arretado. Ele sabia de tudo (exceto o porquê de sua mãe tê-lo nomeado Vergílio em vez de Virgílio). E então um dia ele disse Vai estourar! e a bola que o Catarino chutou estourou.
   Ajudando o pai a erguer um muro, gritou Vai cair! e o muro desceu pelo barranco. Tal vez também, quando estava na aula, resmungou um Vai apagar! e a energia acabou no quarteirão todo.
  Vai chover! e choveu. Vai estragar! e estragou. Vai funcionar! e funcionou.
   O Vergílio veio me visitar, me disse Vai acabar!

22 de fev. de 2011

SEGREDO DA VIDA NO. 2

GÊNERO: CRÔNICA
AUTOR: MURILO VASQUES CARMINATI AMATI

   Eu não digo que a vida seja simples, mas a cada dia que vivemos vamos descobrindo novos segredos de como viver. Basta viver para entender. E o dia em que a luz ofuscar os nossos olhos, retirando de nós o suspiro da alma, todos os segredos teremos compreendido.

    O SEGUNDO GRANDE SEGREDO DA VIDA é reconhecer que tudo que pensamos sobre o futuro se baseia em sonhos que não podem nunca se tornar reais. Nenhum emprego que sonhamos atenderá os nossos desejos da maneira como esperamos. Os amigos que idealizamos nunca se comportarão do jeito que pensamos que eles deveriam e a relação amorosa, então, não poderá nunca ser tão pura quanto idealizada.
   Pode acontecer de um momento vindouro não desagradar aos nossos desejos presentes, não ficando tão explícita a frustração dos nossos planos e ideais, mas serão sempre muito distanciados os nossos sonhos das condições reais da nossa vida.