GÊNERO: CRÔNICA
AUTOR: MURILO VASQUES CARMINATI AMATI
Eu nasci gordão. Eu fui um bebê de quase cinco quilos. Não é por nada não, mas ser um bebê de quase cinco quilos não é pra qualquer um. Eu cresci gordinho. Eu sempre fui uma bolinha. Quer dizer, nem tanto: eu era fofinho, mas na minha "preadolescência" eu era rechonchudo. Estilo Sancho Pança. Eu era feliz assim, pelo menos achava que era: eu não tinha nenhum problema de saúde e me sentia muito bem, mas tinha alguma que limitava toda a minha potência.
Aos onze anos, comecei jogar basquete. Aos treze, já tinha me tornado uma pessoa "magra", ou pelo menos aparentemente magra. Na verdade eu continuava acima do peso, só que muito mais alto e muito mais aceitável, segundo padrões de saúde. E forte. Eu aprendi, então, como correr e pular é muito bom. Como é prazeroso poder se deslocar no espaço com uma destreza maior do que a gordisse nos proporciona.
Gordinhos e gordinhas que venham a ler este texto, não encarem isso como um insulto à gordisse. Aliás, nunca nem mesmo deixe que alguém os chamem de gordos (como eu fiz ali atrás), como se os gordos fossem uma raça diferente dos magros, ou dos normais. Estar gordo é comum e é tão fácil largar este estado quanto mudar de roupa. Apenas exige disposição. Você precisa querer e fazer.
Talvez, você que sofre com a obesidade não saiba o que há de bom no mundo para aqueles que emagrecem, mas eu posso dizer que é muito melhor ser mais leve e, principalmente poder correr por aí quando der na telha. A sensação de liberdade é incrível.
Meu irmão é gordinho, quero dizer, está gordinho. Disse pra ele procurar ir jogar basquete, ou então lutar judô. Eu sou do tipo de pessoa que acredita que o esporte é necessário. Mesmo que esses dois caminhos não funcionassem como emagrecimento, seriam ótimas maneiras de gastar a energia do dia-a-dia e livrar a cabeça de alguns pensamentos ruins. Fora o número de amigos que se ganha, além do tédio que se joga fora. Eu só quero que ele FAÇA ALGUMA COISA.
Ele, como bom gordinho acomodado me respondeu apenas com um "NÃO". E quando eu perguntei o porquê dele não querer praticar estes esportes, ele me disse que não gosta.
Agora sim começa o grande impasse desta postagem. Chega a ser um impasse filosófico.
Eu, num primeiro momento, me perguntei Como se pode não gostar de algo que nunca se experimentou? É como dizer que não gosta de salada, sem nunca ter comido. Mas, enquanto eu pensava nisso, um outro pensamento mais sombrio me passou pela cabeça...
Uma vez numa festa da faculdade estava eu pregando o meu machismo: "Não, eu não quero ser gay!" respondia a um colega de curso que prega a "liberação sexual". Eu sempre fui do partido conservador quanto a estas questões. E guardo pra mim o meu direito de estar com a razão. Tenho certeza absoluta, de mim comigo mesmo aqui, que ser homossexual não deve ser lá muito vantajoso ou prazeroso. Duvido que haja prazer em tocar outro homem, sexualmente falando, e isso pra mim até parece um certo grau de masoquismo.
Digo de pronto que eu não gosto de ser gay. E eu nunca tentei. Então será que eu não deveria dar ao meu irmão a possibilidade de não gostar de ser um atleta, mesmo sem nunca ter tentado?
Esse impasse, no meu ponto de vista filosófico, fica respondido pelo seguinte argumento: todos nós sabemos que há um bom senso que nos diz o que é plausível. E parece ser plausível que meu irmão faça esportes e que eu não vire gay.
Talvez haja uma carga enorme de preconceitos nisso, talvez preconceitos contra as pessoas que não querem fazer exercícios, e talvez preconceitos contra as pessoas que querem "copular" com pessoas do mesmo sexo. Só que eu guardo pra mim todo o direito de querer bem ao meu irmão por sua saúde e também me guardo o direito de não querer outro homem tocando em mim.
Por isso eu insisto tanto para o meu irmão ir fazer alguma coisa, bem como para o meu colega parar de insistir em pregar a sua ideologia pra mim.